BERGSON: Sempre estudei em escolas públicas. Aliás, na pequena Lima Duarte, acho até que lá não tinha escola particular na época, não (???)…. Estudei no antigo Grupo Escolar Bias Fortes e depois fui pro chamado Ginásio… Adalgisa Duque…., ambas escolas estaduais. Acabou que – já interessado nas áreas de ciências humanas – já em Juiz de Fora, entrei para a Faculdade de Direito e me formei em 1985. Sempre fui um aluno de mediano pra baixo (risos).
Mas, o que ocorreu é que o gosto pela leitura e o estudo mais desinteressado sempre me acompanhou. Eu nunca consegui gostar das aulas em si. O tempo de ficar prestando atenção em explicações que não me detinham….sei..lá…
L&D: Interessante essa sua colocação…eu me lembrei de uma livro do jornalista Gilberto Dimestein, em parceira com o escritor Rubem Alves… que tem o título de “Fomos maus alunos”. Trata-se de um diálogo sobre a educação formal.. e como ela é chata… às vezes. Mas continuando, a educação no país, você não acha que há deficiências estruturais?
Olha, no meu caso, depois de minha formação formal, vamos dizer assim, no exercício da Promotoria de Justiça, em pequenas comarcas, foram anos de estudo e trabalho voltado para áreas muito específicas como administração pública, direito administrativo, ambiental, penal, civil, direito sanitário, eleitoral, etc. Nós tínhamos que atuar em áreas tão distintas como questões ligadas a criança e adolescente, e consumidor, por exemplo. E fazer investigações complexas de atos de corrupção e crimes. O fato é que, quando tendo gosto pelo trabalho, o estudo conexionado a isso, eu acho que sempre vem naturalmente. Percebo que, nas escolas, quando temos referências de quem são nossos professores, e percebemos o sentido daquilo que estamos estudando, não há como não incutir o interesse no jovem. E o conhecimento se vem pela curiosidade. Pelo susto mesmo.
L&D: Como assim, pelo susto?
Vou te dar um exemplo. Estudei física, química e biologia no ensino médio. Mas sempre víamos essas disciplinas, quase todas, como obrigação. Já na idade adulta, tive um susto, tipo um clarão, quando um professor de filosofia, meu amigo, uma pessoa de considero de grande sabedoria, explicava-me a questão da gravidade, com conceitos históricos, na física newtoniana. Nunca tinha pensado as física, a gravidade, dentro dos exemplos que ele me deu. Ou seja, através de conceitos básicos. Fiquei fascinado e passei a me interessar, já com mais de 40 anos, por princípios da física. E pensei: nossa, se eu tivesse tido um mentor que tivesse feito esse caminho para me explicar a física. Talvez eu não tivesse a maturidade na época… Mas tudo talvez teria sido com mais entusiasmo. Esses tempos, estudando química com meu filho de 15 anos, contei a história de Mendeleiev, que “descobriu” a tabela periódica depois de um profundo sono e sonho. Ele ficou fascinado com a história, e lhe dei um livro que fala sobre isso. A química passou a ter um outro interesse pra ele.
L&D: Mas e sua formação acadêmica, como é que foi?
Já mais tarde, em 2002, comecei o mestrado em Biodireito, Ética e Cidadania, com concentração em Direito Ambiental, na UNISAL, os Salesianos de Lorena, em São Paulo, completei o curso em 2007. Foi um período de muito crescimento, não só com os professores, mas principalmente com os outros colegas. Pessoas amadurecidas que me ensinaram muito através de uma convivência muito fraterna e madura. Minha esposa, Patrícia, fez esse mestrado também. Íamos juntos estudar toda sexta-feira e sábado, ou quando haviam créditos ou seminários a fazer durante a semana. Ela pesquisou sobre patrimônio cultural, uma vez que já trabalhava com esse tema na época.
Depois, com grandes sacrifícios, dadas as exigência do meu trabalho que chamamos “clínica geral”, em 2011 completei outro mestrado. Foi em Direito das Relações Sociais, com concentração em Direitos Difusos e Coletivos. Isso foi na PUC de São Paulo. Ali tive aulas inesquecíveis com grandes professores como Maria Helena Diniz, Nelson Nery Jr, e tantos outros.
E já no ano de 2019, morando em Lavras, Minas Gerais, depois de quatro anos de pesquisas e estudos, completei o Doutorado em Engenharia Florestal, concentração em Legislação Ambiental e Ecologia Florestal. Isso na UFLA, Universidade Federal de Lavras. Tudo isso eu fazia cumulando com o cargo de Coordenador Regional de Promotorias do Meio Ambiente. Esse órgão, que foi criado em 2009, assessorava – e ainda é assim – 177 municípios que compreende a chamada Bacia do Rio Grande, ou seja toda a região do Sul de Minas.