GRANDE FIGURA HUMANA GIUSEPPE GHIARONI FOI UM POETA POPULAR, JORNALISTA E CRONISTA DA TELEVISÃO E DA ERA DO RÁDIO

Giuseppe Ghiaroni: tempos da Rádio Nacional

Giuseppe Artidoro Ghiaroni nasceu na cidade de de Paraíba do Sul (RJ) em 22 de fevereiro de 1922, e faleceu no Rio de Janeiro em 21.02.2008. Ghiaroni foi um jornalista e um poeta popular brasileiro, que atuou escrevendo para programas de rádio e televisão. Ele era filho dos migrantes italianos Giuseppe Artidoro Ghiaroni e Michelina Grieco, de origem muito humilde, e trabalhou em atividades também muito simples como trocador de ônibus, ferreiro, ajudante de cozinha, office-boy. Mudou-se para o Rio de Janeiro, chamou atenção por sua inteligência e facilidade em aprender línguas e ao longo da vida veio a dominar o inglês, o francês, o italiano, o espanhol. Sua amiga Lenira alcure relata que ele citava com desenvoltura o americano Edgar Allan Poe, o português Antero de Quental, o italiano Lorenzo Stechetti e tantos outros escritores que lia no original. Logo começou a trabalhar como redator do “Suplemento Literário” e no jornal “A Noite”. Dali ele passou então a trabalhar na Rádio Nacional. Essas empresas, na época de outro do rádio, ficavam no mesmo edifício, na Praça Mauá, na região dentral do Rio.

Ghiaroni nesses tempos da Nacional sagrou-se como grande cronista da emissora. Entre outros poemas famosos e crônicas um se tornou especialmente popular: “Mãe”. Acabou virando uma das novelas de maior sucesso da Rádio e que em 1948 se transformaria em filme com a direção de Teófilo de Barros Filho.

Lida e editada por Giuseppe Ghiaroni, e baseada no maior tema religioso e dramático da humanidade, ficou famosa na época a transmissão de ‘A Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo’. A peça foi ao ar pela primeira vez em 27 de março de 1959, pela mesma Rádio Nacional do Rio de Janeiro. A Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo reuniu quase uma centena de artistas para fazer as vozes dos personagens bíblicos. O trabalho contava com a narração de Cesar Ladeira e a locução de Aurélio Andrade e Reinaldo Costa e participação de todo o então famoso cast de rádio-teatro da emissora. Anualmente era reproduzida em capítulos durante a Sexta-Feira da Semana Santa.

Ghiaroni foi ainda contratado da Rede Globo. Entre outros trabalhos, assessorou Chico Anísio na década de 1990, quando este produzia a Escolinha do Professor Raimundo.

O fato é que ele foi um humorista por vocação e é considerado um dos grandes redatores da história do Rádio e da TV no Brasil. Quem conviveu com Ghiaroni pôde admirar sua rara inteligência, o senso de humor sempre fino, enfim, um homem generoso e grande caráter.

Ainda na Rádio Nacional, Ghiaroni escreveu novelas, crônicas diárias lidas ao meio-dia no famoso programa “A Crônica da Cidade”. Algo que poderia ser imaginado, em termos de influência e repercussão, como um jornal nacional da época. Era autor de programas humorísticos como o Tancredo &Trancado, que ficou 18 anos no ar. Teve uma atuação política intensa como jornalista e acabou sendo o autor da última crônica da formada Rede da Legalidade, sob o comando da Rádio Nacional, antes da tomada da Rádio pelos militares no golpe de 64.

Dia das Mães

Mãe! eu volto a te ver na antiga sala
onde uma noite te deixei sem fala
dizendo adeus como quem vai morrer.
E me viste sumir pela neblina,
porque a sina das mães é esta sina:
amar, cuidar, criar, depois… perder.
Perder o filho é como achar a morte.
Perder o filho quando, grande e forte,
já podia ampará-la e compensá-la.
Mas nesse instante uma mulher bonita,
sorrindo, o rouba, e a velha mãe aflita
ainda se volta para abençoá-la

Assim parti, e nos abençoaste.
Fui esquecer o bem que me ensinaste,
fui para o mundo me deseducar.
E tu ficaste num silêncio frio,
olhando o leito que eu deixei vazio,
cantando uma cantiga de ninar.

Hoje volto coberto de poeira
e te encontro quietinha na cadeira,
a cabeça pendida sobre o peito.
Quero beijar-te a fronte, e não me atrevo.
Quero acordar-te, mas não sei se devo,
não sinto que me caiba este direito.

O direito de dar-te este desgosto,
de te mostrar nas rugas do meu rosto
toda a miséria que me aconteceu.
E quando vires a expressão horrível
da minha máscara irreconhecível,
minha voz rouca murmurar: ”Sou eu!”

Eu bebi na taberna dos cretinos,
eu brandi o punhal dos assassinos,
eu andei pelo braço dos canalhas.
Eu fui jogral em todas as comédias,
eu fui vilão em todas as tragédias,
eu fui covarde em todas as batalhas.

Eu te esqueci: as mães são esquecidas.
Vivi a vida, vivi muitas vidas,
e só agora, quando chego ao fim,
traído pela última esperança,
e só agora quando a dor me alcança
lembro quem nunca se esqueceu de mim.

Não! Eu devo voltar, ser esquecido.
Mas que foi? De repente ouço um ruído;
a cadeira rangeu; é tarde agora!
Minha mãe se levanta abrindo os braços
e, me envolvendo num milhão de abraços,
rendendo graças, diz: “Meu filho!”, e chora.

E chora e treme como fala e ri,
e parece que Deus entrou aqui,
em vez de o último dos condenados.
E o seu pranto rolando em minha face
quase é como se o Céu me perdoasse,
me limpasse de todos os pecados.

Mãe! Nos teus braços eu me transfiguro.
Lembro que fui criança, que fui puro.
Sim, tenho mãe! E esta ventura é tanta
que eu compreendo o que significa:
o filho é pobre, mas a mãe é rica!
O filho é homem, mas a mãe é santa!

Santa que eu fiz envelhecer sofrendo,
mas que me beija como agradecendo
toda a dor que por mim lhe foi causada.
Dos mundos onde andei nada te trouxe,
mas tu me olhas num olhar tão doce
que, nada tendo, não te falta nada.

Dia das Mães! É o dia da bondade
maior que todo o mal da humanidade
purificada num amor fecundo.
Por mais que o homem seja um mesquinho,
enquanto a Mãe cantar junto a um bercinho
cantará a esperança para o mundo!