DANTAS MOTA

O POETA “AINDA” ESQUECIDO DAS MINAS E DAS GERAES

REVISTA DA AMAGIS – SOBRE DANTAS MOTA

José Dantas Motta nasceu em Carvalhos, então município de Aiuruoca, em 22 de março de 1913, e morreu no Rio de Janeiro, em 09 de fevereiro de 1974. Conhecido como Dantas Mota, José Franklin Massena de Dantas Motta, foi um escritor sul-mineiro, que escreveu em poesia e prosa.

Dantas tornou-se figura lendária do Tribunal do Júri de Minas Gerais, com sua verve afiada e enorme cultura literária. Participando do movimento mordernista nas décadas de 1920 e 1930, conviveu com personagens da literatura brasileira como Mário de andrade, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade que  admirava sua obra e não se conformava com sua opção pela vida na província e resignação ao ostracismo.

Acesse na imagem acima a importante Publicação da AMAGIS CULTURA com matéria sobre a obra de Dantas Mota. 
 
 

A ESCRITURA DO TEMPO

A escritura do tempo na poesia de Dantas Mota é um ensaio pioneiro, de longo fôlego, sobre a poesia do escritor mineiro Dantas Mota (1913-1974). Caio Junqueira Maciel, também mineiro de Cruzília, rastreia as raízes de fundo alcance de uma poética que conjuga o mito, o bíblico, o histórico e investiga a originalidade de uma escritura dotada de intensa força lírica e social.

Acesse AQUI palestra de Caio Junqueira sobre a poesia de Dantas Mota.

NOTURNO DE BELO HORIZONTE

O chope não me traz o desejado esquecimento
Os insetos morrem de encontro à lâmpada
Ou se açoitam no sofrimento destas rosas secas.
Vem do Montanhês este ar de farra oculta,
Bem mineira, e um trombone, atravessando
A pensão “Wankie”, próxima à Empresa Funerária,
Acorda os mortos desolados na Rua Varginha.
Uma lua muito calma desce do Rola-Moça
E se deita, magoada, sobre os jardins da Praça,
O telhado do Mercado Novo, o bairro da Lagoinha.
Tísicos bóiam que nem defuntos na solidão
Dos Guaicurus. O próprio noturno de Belo Horizonte
Tem lá suas virtudes: nas pensões mais imorais
Há sempre um Cristo manso falando à Samaritana.
As mulheres do Norte de Minas, uma de Guanhães,
Duas de Grão-Mogol e três da cidade do Serro
Mandam ao ar esta canção intolerável
Que aborrece até mesmo o poeta Evágrio.
Pobre Evágrio, perdido na estação de Austin.
Triste e duro como uma garrafa sobre a mesa.
Entanto nada indica haja tiros, facadas, brigas
De amantes na Rua São Paulo, calma e sem epístolas.
O Arrudas desce tranqüilo, grosso e pesado,
Carregando cervejas, fetos guardados, rótulos de
Farmácia, águas tristes refletindo estrelas.
Tudo, ao depois, continuará irremediavelmente
Como no princípio. Somente, ao longe,
Na solidão de um poste, num fim de rua,
O vento agita o capote do guarda.

De Planície dos Mortos (1945) – Dantas Motta