POPULAÇÃO ESTÁ PERDENDO A VERGONHA DE DIZER QUE NADA LÊ

Registro gradual do número de pessoas que desprezam a leitura

Matéria de Walter Porto publicada na Folha de São Paulo em 19.11.2024, diz que pela primeira vez, pessoas que não costumam ler são maioria no Brasil, segundo pesquisa Retratos da Leitura no Brasil que identifica que a maioria dos brasileiros especificamente não é leitora de livros. O fato é que, aponta a pesquisa, o país perdeu quase 7 milhões de leitores desde 2019, no pior índice da série histórica do maior levantamento do setor.

Porto informa que entre as pessoas entrevistadas na pesquisa deste ano do IPEC, e divulgada pelo Instituto Pró-Livro, 53% não leram nem uma parte de um livro nos três meses anteriores à pergunta. Isso incluiria tanto literatura quanto obras didáticas ou religiosas, como a Bíblia por exemplo, seja em suporte impresso ou digital.

Ou seja, nos últimos cinco anos, houve uma perda de 6,7 milhões de leitores no país.

Desde 2015, a queda foi de mais de 11 milhões de pessoas. Naquele ano, o percentual de pessoas não leitoras era 44% e, em 2019, essa fatia era de 48%, indicando tendência de aumento gradual daqueles que desprezam o costume de ler, que agora são majoritários no Brasil.

Também na Folha de São Paulo, o escritor e jornalista Sérgio Rodrigues, autor de “A Vida Futura” e “Viva a Língua Brasileira”, em 19.11.2024, comentando a matéria, diz que quando leu a notícia da queda de leitura apontada pela pesquisa atual, seu primeiro pensamento foi o de que os números começavam finalmente a se aproximar da realidade de uma população majoritariamente divorciada dos livros: “os pobres porque não têm acesso e os ricos porque não têm interesse”, nas palavras de Mario Vargas Llosa sobre o Peru.

Mas, continuava, Rodrigues: “E por que os números estariam ficando mais condizentes com a realidade? Uma razão plausível seria uma parte dos brasileiros ter perdido a vergonha de admitir que não leu xongas nos últimos três meses —ou, por falar nisso, três anos ou três décadas.”

Acesse na imagem para ver a pesquisa RETRATOS DA LEITURA NO BRASIL

TAMBÉM OS PROFESSORES E EDUCADORES NÃO TÊM TEMPO PRA LER ?

 

Quando se pergunta aos entrevistados, entre eles muitos professores e pedagogos do ensino fundamental, quais são seus outros hábitos no tempo livre, há uma curva ascendente e esperada da internet e de redes de mensagens como WhatsApp. O fenômeno das telas rouba atenção da reflexão crítica exigida pela leitura. O costume de ver televisão aponta-se que está em queda, indo da casa dos 80% em 2011 para a de 60% agora.

A parcela de entrevistados que dizem que não gostam de ler subiu sete pontos percentuais e passou a fatia dos que respondem que “gostam muito” de ler —são 29% contra 26%. Já a parcela dos que respondem “gostar um pouco” se mantém mais alta, em 43%.

O maior motivo declarado para não ler, de longe, é a falta de tempo, apontada por 46% dos entrevistados. É a resposta campeã desde a primeira edição da pesquisa. Entre os não leitores, empatam o “não tenho tempo” e o “não gosto de ler”. 

Ou seja, professores, educadores, pedagogos exigem leitura e aprendizagem de seus infantes alunos, mas nunca tiveram ou conhecem o hábito da leitura e o processo de conhecimento que ela proporciona.

 

 

REFLEXÃO DIANTE DA PALAVRA ESCRITA VIROU CHACOTA

 

 

Uma das características mais centrais da chamada Sociedade do Espetáculo em que vivemos, é a total impaciência para ouvir, ler, refletir, pensar, dialogar, silenciar, e na sedução pautada pela imagem. A hiperconecção é o grande acontecimento de nossos dias. De outro quadrante, portanto, a reflexão crítica, pautada num labor curioso, concentrado, nem por isso destituído de prazer, foi substituído pela resposta instantânea das telas.

Não se exige que o receptor da imagem pense ou tenha maior dificuldade crítica. O consumo destitui obstáculos que impeça seus resultados. O elogio da leitura nesse mundo tornou-se assim fator de piada. Resta saber onde todos chegaremos.