O MUNDO PRECISA DOS POLÍMATAS

Livro de Peter Burke, O Polímata.
O livro de Peter Burke, O POLÍMATA (The Polymath: A Cultural History From Leonardo da Vinci to Susan Sontag), faz jus ao renome que esse estudioso conquistou, como historiador cultural que é. Nessa obra, que absorve como uma leitura prazeirosa, ele faz grandes imersões na história do conhecimento, como também na sua organização das grandes ideias, principalmente no Ocidente.
Em seus outros livros e nesse O POLÍMATA, Peter Burke parece estar atento à história do surgimento de variadas disciplinas científicas específicas. Esse movimento teria como objetivo essencial propor organizar “o que pensamos que sabemos”. E, de outro lado, ele fala de alguns esforços para resistir a esses modos de organização.
A perspectiva do “aprender tudo”, na concepção de Burke muda à medida que as culturas se transformam. Ser um sabe-tudo na Renascença exigia tempo e esforço consideráveis, mesmo para os mais brilhantes. Nos tempos atuais, para ser um sabe-tudo, talvez seja necessário apenas um bom smartphone. Mas o fato é que isso, por si só, não produz um polímata.
Um exemplo clássico de POLÍMATA é o gênio Leonardo da Vinci. O mestre florentino percorreu com desenvoltura histórica áreas como a pintura, geologia, projetos científicos e engenharia. Essa fome de conhecimento, a curiosidade pelas coisas dos homens e do mundo, criam também certa ansiedade. Essa era outra característica dos reconhecidos polímatas. A lendária curiosidade de Leonardo, no entanto, levou muitos terem a opinião de que ele também portava a incapacidade de concluir muitos de seus projetos. Teria nascido aí a expressão: Síndrome de Leonardo.
Umberto Eco: um típico polímata de nosso tempo.

 

ESPECIALIZAÇÃO E CONHECIMENTO

Já no Século XVIII, à medida que a quantidade de informação disponível crescia, a especialização surgiu lentamente como a melhor estratégia para se criar conhecimento. Assim, emergiu também o costume de determinar-se quais os conjuntos de informação que poderiam ser mais relevantes para o trabalho de alguém e quais precisavam de ser seguidos detalhadamente.
Burke destaca três crises mudaram a relação das pessoas com o conhecimento.  A primeira ocorreu na Europa, no século 17, e foi provocada pelo surgimento dos livros impressos. A segunda, no século 19, deveu-se à proliferação de livros no ocidente. Já a terceira crise, que se dá em escala global, na modernidade, surge em decorrência do excesso de informação, potencializado, principalmente, pela internet e pelas novas tecnologias.
A concepção que norteia o pensamento de Burke é que a diminuição dos polímatas está relacionada à excessiva especialização do conhecimento, que surgiu para ele, inicialmente, no campo da medicina.
É necessário observar conexões inesperadas entre os campos. Avaliar uma disciplina por meio de um olhar treinado em outra disciplina. Ao contrário da especialização, esse modo de pensar unifica o conhecimento. O conhecimento especializado significa saber mais sobre cada vez menos assuntos.
Retratação artística do Filósofo Heráclito de Éfeso, O Obscuro.

HERÁCLITO DE ÉFESO: O ANTIGO POLÍMATA

Heráclito de Éfeso, filósofo grego do período pré-socrático, é apontado como o inventor do termo POLÍMATA.
HERÁCLITO DE ÉFESO escreveu um tratado de filosofia em três volumes e o depositou no GRANDE TEMPLO DE ÁRTEMIS (a “Diana dos Efésios” mencionada por São Paulo). Infelizmente são obras que se perderam.
O estudo da obra de Heráclito não permitia seus contemporâneos afirmar que se tratava de geologia, astrologia, física ou era um tratado político. Sócrates teria estudado as obras de Heráclito e disse de sua profundidade: “O que não entendi pode do mesmo modo ser excelente, mas seria preciso um mergulhador para chegar às suas bases”.
Enfim, O POLÍMATA é livro imperdível para quem gosta de conhecer, tem curiosidade em aprender, e interesse em saber como se forma o conhecimento essencial, cuidando-se com os percalços da especialização orgânica. E o livro de Peter Burke merece ser conhecido por nos revelar esses conceitos.